terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Carteira de motorista, uma identidade nacional

 

Luis Otávio Matias* 

No Brasil, o automóvel é muito mais do que um meio de transporte. Ele é sonho, conquista, status, independência, e, não raro, um membro não oficial da família. Essa relação visceral entre o brasileiro e o carro ultrapassa o aspecto prático. Adquirir um veículo, para muitos, é cruzar a linha simbólica entre o "antes" e o "depois", uma transição quase ritualística que traduz o desejo de mobilidade, mas também de pertencimento e realização.

A paixão pelo carro no Brasil tem raízes profundas, que misturam história, cultura e economia. Nos anos de crescimento econômico do século XX, o automóvel era a promessa de modernidade, um símbolo de progresso que chegou a ser exaltado nas propagandas da época. A construção de rodovias, como a Brasília-Belém ou a Via Dutra, consolidou a imagem do carro como veículo de integração nacional. Mas o que parecia ser uma revolução logística logo transcendeu seu propósito funcional e ganhou o coração do brasileiro como uma extensão da própria identidade.

A verdade é que o carro fala muito sobre quem somos, ou quem gostaríamos de ser. Um sedã robusto, um SUV imponente ou até mesmo um compacto econômico carregam mensagens sobre estilo de vida, aspirações e prioridades. Para o jovem que adquire seu primeiro veículo popular, o carro não é apenas um motor com rodas. É liberdade, é independência. Para a família que sobe a serra em um utilitário, o carro se torna um espaço íntimo de conexão, um lugar onde histórias são contadas, músicas são cantadas e memórias são construídas. Há uma poética em cada trajeto, ainda que, por vezes, o trânsito transforme o que poderia ser idílico em um desafio de paciência.

Esse fascínio cultural é, ao mesmo tempo, uma bênção e uma responsabilidade. No Brasil, cada lançamento precisa dialogar com essa psique coletiva que valoriza o design tanto quanto a funcionalidade, que exige robustez para enfrentar estradas esburacadas, mas também deseja um toque de sofisticação para transitar pelos centros urbanos. O brasileiro quer tecnologia, conforto e economia, mas também quer que o carro tenha uma personalidade quase tangível, que converse com seu dono em um idioma silencioso, feito de potência, acabamento e presença.

Ao mesmo tempo, há peculiaridades fascinantes no mercado. O financiamento de longo prazo, por exemplo, permite que pessoas de classes econômicas variadas alcancem o sonho de ter seu carro próprio, ainda que isso signifique compromissos financeiros extensos. Há também o carinho pela personalização, que transforma carros em verdadeiros reflexos de seus proprietários. Seja um adesivo no vidro, um sistema de som potente ou uma pintura vibrante, o brasileiro tem um talento especial para dar alma a uma máquina.

E é justamente por entender a profundidade dessa relação que precisamos nos adaptar a um consumidor que está, sim, mudando. O brasileiro de hoje está mais consciente sobre sustentabilidade, preocupado com eficiência energética e atento ao impacto ambiental de suas escolhas. Modelos híbridos e elétricos já começam a ganhar espaço, mas não é suficiente apenas lançá-los. É preciso trazer soluções que conversem com a realidade do país, onde a infraestrutura para esses veículos ainda engatinha. Mais uma vez, o desafio não é apenas tecnológico, mas cultural: como transformar o fascínio pelo ronco de um motor potente em uma paixão pelo silêncio elegante de um carro elétrico?

Há também a chegada de uma nova geração ao volante, com valores distintos daqueles que moldaram o mercado até aqui. Jovens que valorizam experiências mais do que posses questionam a centralidade do automóvel, especialmente nas grandes cidades, onde o compartilhamento de veículos e o transporte por aplicativos reconfiguram a ideia de mobilidade. Mas mesmo esses jovens, que inicialmente podem parecer desinteressados em adquirir um carro, frequentemente mudam de perspectiva quando chegam os filhos, a casa própria ou a necessidade de fazer aquela viagem tão sonhada pelo interior do Brasil. O carro, de alguma forma, acaba entrando em cena.

E, afinal, como poderia ser diferente? O carro é ao mesmo tempo um espaço físico e emocional. Ele abriga as conversas solitárias, as confidências entre amigos, as brigas de casal e as reconciliações. Ele é cenário de aventuras e testemunha de rotinas. Quantos amores começaram em uma carona? Quantos recomeços se deram ao cruzar a fronteira de uma cidade ao som da música favorita no rádio? No Brasil, o carro é mais do que um veículo: é um catalisador de histórias, um companheiro silencioso em nossas jornadas.

Por isso, inovar no setor automotivo no Brasil exige respeitar essa relação única e multifacetada. É compreender que o brasileiro não compra apenas um carro; compra sonhos, possibilidades e, muitas vezes, uma extensão do que é. Entre uma concessionária e outra, cada assinatura de contrato carrega consigo a promessa de liberdade e a realização de um desejo que, mais do que nunca, reflete a essência de quem somos. Afinal, aqui, as estradas não são apenas trajetos – são cenários de uma paixão que nunca sai de moda.



Luís Otávio Matias
divulgação/ Tecnobank

* Luis Otávio Matias, ex-vice-presidente do Itaú com mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro. Formado em Direito pela PUC-Campinas, é atualmente vice-presidente da Tecnobank.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

TV CULTURA ESTREIA SÉRIE SOBRE HISTÓRIAS DE VIDA DE MOTORISTAS DE APLICATIVO


 

PRODUÇÃO INÉDITA EM TV ABERTA VAI AO AR ÀS QUARTAS-FEIRAS, ÀS 20H30



Estreia nesta quarta-feira (8/1), na TV Cultura, a série documental Origem & Destino, inédita em TV aberta. Em quatro episódios, a produção aborda, com grande sensibilidade, histórias de vida de motoristas de aplicativo. Profissionais que chegaram a esse universo advindos das mais inusitadas funções e currículos anteriores, vivendo situações pessoais muitas vezes inesperadas e desafiadoras. Vai ao ar às 20h30.
 

De refugiados a advogados, de músicos a mães enlutadas – e muitos outros – um belo dia se cadastraram e saíram pelas cidades e estradas reinventando a própria trajetória. Ao abraçar uma nova atividade profissional, mudaram a forma como encaram o trabalho de todos os dias, redesenhando roteiros, rotinas e sonhos.
 

Sucesso pessoal, superação, realizações, mas também surpresas e obstáculos pelo caminho. Entre a origem e o destino, quem sabe o que essa jornada lhes reserva? Uma coisa é certa: os personagens da série sonham, lutam e chegam lá.

Como as novas rodovias pedagiadas vão melhorar a circulação no Paraná?




Recentemente os paranaenses conheceram os vencedores do leilão pelo Lote 3 do Sistema Integrado de Rodovias do Paraná, envolvendo quatro rodovias estaduais e três federais ao longo de 22 cidades que estarão sob nova administração por 30 anos a partir de 2025. O investimento previsto é de R$ 16 bilhões para duplicação de 132 quilômetros, construção de 25 quilômetros de faixas adicionais, 22 passarelas, 24 quilômetros de ciclovias e diversos pontos de paradas.


Para Bernardo Oliveira, engenheiro e Gerente de Unidade de Negócios da De Amorim Construtora, estas melhorias vão impactar não apenas os moradores da região, mas também o comércio, a indústria e até mesmo o turismo - e tudo começa na terraplanagem, envolvendo escavação, nivelamento e drenagem:


“São detalhes que evitam problemas como alagamentos e futuras erosões. A pavimentação da rodovia é a parte visível para todos, mas o projeto é muito mais complexo, envolvendo novas camadas de asfalto para motoristas que transitarem sem problemas.”

Obras extras que trazem mais conforto e segurança

Outro ponto destacado pelo engenheiro nestas novas rodovias passa pelas chamadas obras de arte, que envolvem pontes, ciclovias e demais estruturas que fazem a diferença para a comunidade:

“Há rios pelo caminho, entroncamentos, trechos ao lado de barrancos e outros obstáculos naturais que precisam ser superados. Essas construções extras fazem parte das melhorias e precisam ser construídas com precisão para garantir a segurança de todos os que vão passar pelas estradas.”

Melhorias também no entorno das rodovias

Os pontos de paradas também fazem parte de qualquer projeto de melhoria de rodovias. Bernardo lembra que esses pontos de descanso para motoristas ajudam a garantir melhor qualidade de vida para motoristas profissionais, além de servirem como ponto de apoio para veículos de ajuda, como ambulâncias e carros de socorro:

“Toda obra de infraestrutura contempla a movimentação de veículos, que é o objetivo principal, mas não podemos descartar o impacto no desenvolvimento que novas rodovias trazem para a região e para o estado. Facilitar o transporte ajuda na logística de mercadorias, de insumos para a indústria, para o turismo e até mesmo para a mobilidade de ambulâncias entre cidades menores e centros mais preparados”

Carteira de motorista, uma identidade nacional

  Luis Otávio Matias*  No Brasil, o automóvel é muito mais do que um meio de transporte. Ele é sonho, conquista, status, independência, e, n...